.jpg)
De ontem pra hoje deixei baixando esse documentário pra ver qual que é. De tanto me falarem (tanto pessoas pela qual eu divido alguns pensamentos em comum quanto as que pensam exatamente o oposto de mim), a minha curiosidade foi aguçada. Claro que teve quem veio com aquele papinho do cu do urso de “ah mas se todo mundo gosta deve ser ruim”, os mesmos que desprezam radicalmente best-sellers, filmes hollywoodianos e bandas que passaram a tocar nas rádios, mas isso é papo para um futuro post.
Ao terminar de ver, fiquei impressionado como o maniqueísmo barato ainda consegue ludibriar as pessoas. O filme nada mais é que uma auto-ajuda disfarçada com teses científicas discutíveis direcionadas ao que há de pior em qualquer um de nós: a vontade infinita de ter ao invés de ser.
Sim, porque o Segredo nada mais é que o fortalecimento da possessividade. É o pensar positivo para se ter a maior quantidade de coisas, e assim (e só assim) ser feliz e ter paz. A premissa é de que, se você pensar positivamente do que deseja, você vai conseguir. “Você é aquilo que você quer”... Eu odeio usar esses termos, mas não tem como deixar de pensar nisso como uma ode capitalista extremista. A todo momento, é instaurado um sentido de ter mais, ter tudo que se quer, ter o mundo. Ter, ter, ter. Qualquer um pode ter, independente do que seja como indivíduo e de seu caráter. E ainda por cima se coloca o questionamento sobre se o que queremos ter é o que realmente precisamos na privada pra depois dar descarga.
O grande problema de O Segredo, a meu ver, é usar toda essa retórica em prol de uma materialização do sentido de ser feliz. Todo e qualquer entendimento da sociedade e de cada indivíduo que vive nela foi banalizado, não é mais importante. Há coisa mais ridícula que afirmar que devemos realmente fazer tudo que nos dá prazer? Vá dizer isso para todas as pessoas morbidamente obesas, os viciados em algum tipo de droga lícita ou não, e às pessoas acomodadas que se fecham no redoma alienante de uma única sensação por medo de sofrer. Ah... mas medo é um pensamento negativo que está fora da filosofia de “O Segredo”... ? Pois é... Positivo é nos ensinar que devemos sentir gratidão única e exclusivamente como forma de conseguirmos alcançar os nossos objetivos. Bela lição.
Combinando hedonismo com espiritualidade barata, o documentário sugere que o bem-estar só depende das nossas próprias vontades e pensamentos. O individualismo exacerbado: temos que pensar no que queremos, vamos ter o que queremos, sem luta, sem suor nem lágrimas. Em contrapartida esquece que só aprendemos a lidar com nos mesmos, a nos conhecer e a entender nossas próprias emoções a partir dos nossos erros profundamente humanos. Ainda que o sucesso dependesse do que atraímos para nós mesmos, quantas batidas na cabeça temos que dar para realmente vislumbrar o que acrescenta algo a nossa vida? Como avaliar se o que queremos hoje é o que vai nos trazer felicidade e paz?
Não sou cético radical. Mas não tem como levar em consideração uma “Lei da Atração” do modo como ela é explorada por essa obra infame. Qualquer semelhança com a filosofia evangélica neo-pentecostal (não) é mera coincidência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário