sexta-feira, 27 de julho de 2007

LETRAS ILETRADAS


Inevitável

Você diz que tua regra é a bendita
Eu desminto tua crença ultrapassada
Você decifra e corrige a minha escrita
E eu desabafo a sirene equivocada

Você repreende a minha estupidez
Eu te atinjo, breve ao meu desgosto
Você me lembra da minha insensatez
Eu te corto com um sorriso no rosto

Você assina cada tola permissão
Eu te ofereço uma vã promessa
Você me atira a tua consideração
Eu reintero que isso não me interessa

Você exerce a sua possessividade
Eu transfiguro a minha alienação
Você quer alimentar a maturidade
Eu quero mais, e não aceito o não

Você zela pela minha segurança
Eu fecho os olhos ao sentido perigoso
Você não vê que não existe a criança
Eu não acredito no caminho tortuoso

Você me coíbe, me tesoura, me inibe
Eu te ignoro, desconcentro, escandalizo
Você não abre mão da razão que exibe
Eu freio a bronca do que mais preciso

Você aperta o cerco e a vigia
Eu imponho método e convicção
Você me enclausura em sua tirania
Eu de chacota descarto a intromissão

Você se recorda do que um dia eu fui
Eu te esqueço, mais um dia que passou
Você se previne do mistério que evolui
Eu te agradeço o segredo que sobrou

Você invade o meu atalho restrito
Eu te expulso da minha intimidade
Você provoca a piedade com atrito
E eu ressuscito a minha imunidade

Você reza por meu futuro promissor
Eu me contento com um presente dado
Você se julga com o saber do professor
Eu dissimulo um adulto preparado

Você me abraça, diz que é pro meu bem
Eu compreendo, apesar dos meus reclames
Você faz mesmo tudo isso e vai além
E assim é inevitável que eu te ame


para Marlei Sebastiana Junqueira de Noronha, mais conhecida por mim como "mãe".

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Aos 20 e poucos anos.


Complicado ter 20 e poucos anos. Divisor de águas. Linha tênue que separa o desbunde adolescente da sisudez adulta. Ta na hora, rapaz, você não pensa em casar? Mas já vai casar? Como está sua carreira? Daqui a pouco pode ser tarde demais, vamos farrear por aí? Você não acha que está velho demais pra continuar fazendo esse tipo de coisa? O que nos sobra aos 20 e poucos anos são dúvidas disfarçadas de cobranças, ou seriam cobranças disfarçadas de dúvidas?

Até alguns segundos atrás a vida parecia tão automática. A pretensão do sucesso era apenas uma miragem no horizonte, e agora o horizonte está logo ali na outra calçada. A falta de experiência amorosa justificava o nosso mergulho em todo tipo de namorico mais-que-perfeito, e agora lidamos com um pretérito imperfeito que nos traz descobertas suficientes para certificar que o amor é muito mais real que a catarse de paixão que procurávamos cegamente, e que a carência é nossa principal inimiga. Nossos pais eram nossos eternos guardiões, a todo o tempo comungavam milagres como a comida que aparecia na mesa e as meias sujas que misteriosamente surgiam limpas e guardadas na gaveta. Agora se tornaram humanos, quase gente como a gente. Ditavam obrigações, e agora a sentença vira quase um conselho. Mas como alguém que até alguns dias atrás chamava intervalo de recreio vai se acostumar fácil com isso?

20 e poucos anos implica em tomar decisões diferentes. Não são mais decisões de uma noite como a roupa certa, o lugar ideal, a garota mais gata (e não que essas decisões tenham sumido, mas saíram do topo da fila para um lugar intermediário). Agora a flecha aponta para inúmeros alvos cujos nomes ainda nos dizem pouco: “arquitetura” “engenharia agrônoma” “especialização em mídia”. A falta de perspectiva que a adolescência nos brindava era uma dádiva e não tínhamos consciência disso. Mas porra, somos jovens e o que falta de preparo sobra em gás, coragem, ímpeto. Ok, desbravamos essa rota. A correria continua, a caravana passa, a sua estrada parece insossa e algumas situações te fazem pensar “eu errei?”. Errar aos 20 e poucos anos devia ser um direito, mas não adianta, os dias nos fazem acreditar que um erro tão absurdo é o equivalente a perder milhões em ações. Há tempo para conserto, mas é mais conveniente pensar que não há, que tudo é movido por urgência e conquistas precoces.

Viver sem pensar em sobreviver, eis o dilema. Alguns amigos se dão bem, outros não, e cheios de pontos de interrogação te acionam. É bom isso. Juntos, nos tornamos mais fortes e 20 e poucos anos é idade em que a força conjunta pode ser determinante para desviar as pedras no caminho. Parece até que a vida se inicia pra valer aqui e neste exato instante. Os 100 metros livres começaram e você foi o único que não escutou o disparo de largada. Tudo fica estático, e medos e incertezas dos 30, 40, 50 anos invadem a sua idade. “Será que vou ficar sozinho?” “Vou poder mudar quando eu quiser?” "Serei feliz com as minhas opções?". Aí um amigo das antigas que ainda não foi atingido por esse desespero imediato te dá o mesmo tapa na nuca de quando tinha 15 anos, e você nota que é possível envelhecer e ainda sim ser o mesmo.

Ideais que nos desmontam: crescer, aprender, lutar, persistir. E a responsabilidade de vencer. Vencer é ótimo quando se sabe exatamante o que seria uma vitória pra gente. Aos 20 e poucos é comum confundir o que o mundo espera da gente e o que esperamos de nós mesmos, ou juntar tudo no mesmo caldeirão e fingir que, seguindo a trilha mais óbvia, seremos o que sempre quisemos ser. Mas calma, não há o que temer, os sonhos não envelhecem. Só precisa torná-los mais práticos, mais palpáveis. Simples? Claro que não. Se tudo fosse tão simples assim, seria um porre. É preciso colhões pra tudo, inclusive pra se perder, e claro, depois deliciosamente se encontrar e fazer do seu traçado o motivo de abrir os olhos todas as manhãs.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

LETRAS ILETRADAS


O Casal

Prossegue o casal
Enfeitiçando problemas
Eternizando as mesmas
Trajetórias de vidas

E tornando banal
O que não vivemos
O que nós perdemos
Nas voltas e vindas

No ar, no meio-dia
O romance mais lindo
Dores, ousadia
De um mal bem-vindo

Do qual pertencemos
E surgem alergias
Nesses mesmos defeitos
Que comovem alegrias

Ás vezes avessas
Em ruas desertas
E estrelas diversas
Se apagam incertas

E cartas no cio
Questionam o pranto
O pensamento vazio
Do longo desencanto

De frio permanente
Na cama de solteiro
O tédio impertinente
Consome por inteiro

Os mínimos desejos
Televisão ligada
Por falta dos beijos
Real falta de nada

Mas segue o casal
Com sua intensidade
E longas histórias
De insanidade

E riem, e loucos
Amam ao reviver
Como tão poucos
O que não se pode ver

Assim vejo num laço
Em uma troca tão pura
O medo que eu realço
Inocência de uma cura

E assim por diante
Qualquer outro casal
Por mais que eu me espante
Acha tudo natural

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Ah o nada, esse grande tudo.


Mais uma crônica... Colocando dessa maneira, parece até que me amarraram ao pelourinho e me obrigaram a tecer essas malfadadas palavras sob pena de um açoite maior. Mas na realidade, o que estou fazendo agora é realizando uma conversa comigo mesmo que pode ser lida e relida por qualquer um que tenha tempo e saco para tanto.

Sobre o que escrever? Velho dilema... Mas gosto tanto de pegar uma folha em branco e garranchar absurdos que nem me importo mais se há um tema prévio ou não. O lado positivo disso é que me deixa livre pra começar do zero e terminar do nada. Hmmm... A pergunta continua com pregos martelados na minha mente poluída: o que escrever daqui pra frente? Pra fazer um mea-culpa, posso argumentar que até mesmo a falta de um assunto torna-se interessante quando se tem uma paixão pela atividade de transformar idéias, impressões e emoções em adjetivos, adjuntos adnominais e ditongos.

O nada também reina em nossas vidas, também rege nossos impulsos, também nos faz realizar coisas que até Deus duvida (isso pareceu resenha de Sessão da Tarde né? Só faltou jogar um "arrumar mil confusões" no meio). Então falar sobre o que não tem nada a ver com nada tem tudo a ver com tudo? Ótimo! Deixem-me ir à procura incansável do meu nada. No caso de escrever uma crônica, eu o encontro nas muitas idéias que eu nem ouso começar a dissertar pela previsão (muitas vezes equivocada) de que não serão interessantes ou não terão profundidade. Uma meia que está larga e fica saindo toda hora, a porta do banheiro que não fecha direito, as manias do vizinho que dá três roncos em intervalos cronometrados de dois minutos. Tudo é assunto, mas a precaução e o receio da incompreensão me fazem ir atrás de temáticas mais edificantes.

Sei lá... Poderia discorrer sobre o amor nos subterfúgios do silêncio avassalador, a solidão incontestável da juventude pré-cambiana, a perda da inocência após os noventa anos, o sexo como fuga da realidade... Não, porra!! Por hora estou cansado de tanta poesia, de tanta beleza e tristeza, desses emaranhados de clichês que são jogados na nossa fuça o tempo todo para complementar nossa existência como um mandamento dos Deuses. É tão legal falar merda, inutilidades, ou mesmo tagarelar futilidades em geral. E para a minha falta de intenção imediata, tenho uma quase-certeza que dedicar quatro parágrafos á falta de inspiração podem render um texto muito mais rico que falar sobre família, por exemplo.

Família?? Tema chato, batido... Enfim, já falei pra vocês que hoje levei dez minutos pra amarrar o cadarço do meu pé esquerdo?

segunda-feira, 9 de julho de 2007

CONTOS TONTOS


Ela continuava a caminhar no seu itinerário preferido: duas da tarde percorria a calçada de duas ruas atrás, depois uma viela que dava diretamente na sua casa. O olhar impenetrável, o andar errante da tenra idade... Tudo anunciava que ela ainda era pródiga naquilo que para ele era o fim de todas as suas conseqüências, temores e cálculos.
Ao sair de casa, ele era movido único e exclusivamente por um sentimento que na verdade eram vários, todos de uma só vez, e a intensidade sem nunca ser dividida: O medo de não encontrar a si, caso não a encontrasse. A ânsia de sair de si ao vê-la dona de si. Não era sonho porque doía, e não era dor porque havia o sorriso estúpido, idiota, cretino, que era inevitável ao perceber a existência de alguém tão sublime.
Os passos não eram sentidos, as pernas eram apenas a continuidade do seu tronco, assim como todo o resto era tão ínfimo perto dessa euforia que o tornava maior que humano por alguns segundos eternos.
Eram os seus longos e esvoaçantes cabelos louros? Ou sua pele tão clara que dava vontade de apagar o sol eternamente para que ela nunca mudasse? Seria seus olhos castanhos amendoados que nunca sequer cruzaram com os seus? Ou seu sorriso que era o exemplo maior de felicidade para todos os povos e constelações?
Nada. Isso que era.
Não havia tempo nem sobriedade pra pensar em algo pra dizer... Não, isso seria muito frio, seria um gesto raso, reto, próprio de quem tem controle sobre o que ocorre quando avista quem tanto se deseja. Não era o bastante. Era necessário um tributo, uma quaresma, uma banda, um reveillon...
Para ele, palavras não bastavam. Tampouco uma explicação. E a cada dia ele morria pra poder sobreviver e renascia novamente na tarde seguinte.
Para ela, continuava uma calçada, uma viela, e um garoto que ela olhava de relance, com certo interesse afogado pela timidez que se desfazia no conforto de seu lar.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

De quando Raimundos me transformam em Marty McFly.

Dentre tantos papos absurdos, filosofias de botecos e casualidades, um dos assuntos preferidos abordados por mim e meus amigos é música. Sem aviso prévio um dia coloquei uma pergunta bem simplória na roda: “Em uma frase: O que é música pra você?” Fiz isso mais pra tentar achar uma definição que combinasse com o que essa arte representava na minha vida, já que eu mesmo nunca soube explicar direito tamanha a influência que a música teve em toda a minha existência.

Dentre tantas respostas bobocas, vagas, engraçadas, estapafúrdias e demagogas, uma me chamou a atenção: “A música é o que me faz 13 anos de idade pro resto da minha vida.” Não era complexa, não era nem de longe a melhor, era até bem banal, mas de longe mais sincera de todas. Resvala na verdade crua de que uma das essências da humanidade é o saudosismo. E eu, como eterno nostálgico que sou, me deixei levar por essa frase.

Com isso em mente, fiz uma rápida viagem mental até meus 13 anos de idade.

Meus discos favoritos da época:

Mamonas Assassinas (apesar do trauma da tragédia ter impedido a todos os garotos de 13 anos da época de escutarem mais),
Titãs – Domingo (influência da minha irmã),
Legião Urbana – Dois (Renato Russo dissecando as minhas paixonites agudas sem qualquer cerimônia),
Nirvana – Nevermind (um tanto atrasado pra época, mas ainda importante),
E mais um que merece um parágrafo à parte...

Quando se tem 13 anos, a vida é cheia de paradoxos. Você quer fingir que teve todas as experiências da vida sem na verdade ter tido nenhuma. Quer se destacar por algum motivo, mas ao mesmo tempo fica dependente de estar inserido em um grupo legal de amigos, em que sejam respeitados, admirados, e claro, reparados pelas garotas. Quer liberdade dos seus pais, mas ainda deseja secretamente fazê-los se sentir orgulhosos. Você pensa que crescer é ter liberdade, e aos poucos, com cada uma das descobertas, percebe que quanto mais liberdade a vida te dá mais preso você fica às escolhas que serão somente suas. Quer se mostrar de garanhão com vasta experiência sexual, mas fica com o olhar pra baixo gaguejando qualquer coisa se aquela menina especial está num raio de 3 metros próximo a você.

Tudo gira em um círculo vicioso de provar pra todo mundo que é a sua pessoa mesmo que dita as regras do seu jogo, e não nenhum adulto cretino. Sendo assim, falar de sexo, drogas e transgressão era sempre pertinente, pois dava um falso controle sobre tudo o que desconhecíamos.

Nesse contexto que entra o quinto e talvez mais significativo disco dos meus 13 anos: O segundão dos Raimundos, Lavô ta Novo. Todo moleque de 13 anos em 1996 que se preze ouvia esse disco de cabo a rabo todos os dias. E não era porque concordava com as idéias (tinha idéias ali? Ah claro... machismo e apologia às drogas... pffff... como se alguém levasse aquelas letras a sério), a gente nem pensava direito nisso. Era bom quebrar as regras, sentir que tudo não passava de diversão desenfreada, todos os dias. Os Raimundos nos levavam na nossa prisão escola-casa-lição para um mundo em que éramos reis do nosso reino, e não simples aprendizes de vassalos. Na verdade, prevalecia a auto-afirmação que nos forçávamos a ter pra não nos sentirmos diminuídos. Afinal não somos tão espertos quando temos 13 anos pra viver por nossa conta, mas também não somos tão burros pra ignorar o que nos espera.

Mais de dez anos se passaram e hoje é difícil ouvir aqueles discos. Especialmente esse tal de “Lavo tá Novo”. Não porque ele não faz mais sentido pra mim, mas porque me obriga a um diálogo com aquele pentelho de 13 anos que jogava videogame 4 horas por dia, que ainda era alto o suficiente pra ser armador da equipe de basquete, que gostava de uma loirinha de cabelo curto da mesma sala mas nunca conseguiu dizer isso pra ela e ao invés disso acabou ficando com uma menina da outra sala que não significava muita coisa pra ele, e que ouvia Raimundos várias e várias vezes ao dia pra fingir acreditar que crescer seria fácil.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

PAPOS & SOPAPOS


- Aperta a minha mão direito, pô.
- Uh que braveza...
- Isso tá parecendo aperto de bicha. Homem que é homem não dá esse aperto frouxo não.
- Ah então você mede a frescura de um cara pelo aperto de mão?
- Claro.
- Quer dizer que passar base na unha assim que nem você, tudo bem? Mas apertar a mão de qualquer jeito não dá.
- Ih, qual é a tua?
- Nada, ué... Só to dizendo.
- Vem cá, tu não acha essa franja muito coisa de fruta não?
- O que tem de errado? É um corte que eu gosto, porra.
- Ui ui, tá certo.
- Vá à merda, você anda feito uma maricota de calcinha enfiada no rêgo e vem com essas pro meu lado.
- Aí rapaz, ta me estranhando?
- Você que tá.
- Quer resolver isso?
- Ta a fim de porrada, é?
- Não é pra tanto...
- Tem razão, eu tenho um encontro com a Marcinha hoje e não quero estragar minha unha.
- E nem eu quero desfazer minha franja. Passei horas arrumando, e a Roberta paga muito pau pra ela.


terça-feira, 3 de julho de 2007

Pare o mundo que eu quero descer.



Filme B


Um relógio denuncia a vida plena
Tardes que se condenam às grades
Estrelas intensas sangram
No firmamento, o filme as entregam

Todos estão atentos
Um a cada vez, cada um em seu respeito
Observam, pasmos, petrificados
Em suas ocas
Em seus planetas
A vida em deglutinação
E tudo se contrapõe
Quando denominamos hediondo
O crime referente ao nosso julgamento
Que, desumano, é humaníssimo

Calem-se
Ditaduras e comissão de frente
Nos levaram ao mar de sangue
Sejamos sisudos
Dominadores de uma grande quantidade
De nada
Donos da maior importância...
Mesmo com o desespero cravado no peito
Não há o que temer
Pois todos temem
E ninguém se aproxima

Mentecaptos, omissos
Não levamos a maior fatia
Benzemos a mão e a mente
Do assassino de nossa paz
O que temos agora?
Coração rancoroso, desesperançado
Olhos que quando enxergam
Estão mais cegos que nunca
Estão mais cegos
Que a cegueira

Fogueira para a correnteza
Virtudes e verdades caídas, descartadas
Lideramos somente a nossa justiça
Contra a principal vítima: nós mesmos
Quando a mágoa e a violência
São os verbetes da moda
E o troco é o meu reino inteiro
Por noites febris
Enquanto, ainda cúmplices
Lemos o jornal e babamos

É a regra: olhe para os dois lados
E todos te observarão com insegurança
Um dia, desse sofrimento nascerão crianças
Independentes e frias
E nada sobreviverá aos seus caprichos
Ou à loucura, ou a muito mais

A regra que ensinam todo dia
Não é uma regra de vida
É, assim, bêbada e banal
Uma regra bélica
Burra
E bem-vinda




Produto íntimo


O dia passa e deixa o veneno
A guerra é pronunciada nas escolas
Com todas as suas letras
O revide é indispensável
Lutamos cada vez mais sós
E cada vez mais resistentes

As notícias que chegam não salvam
Há uma nova epidemia
No meu sangue, na minha espécie
Resta uma culpa interminável

Sinal dos tempos
Todos conhecem uma vítima terminal
E um assassino serial
E que levante a mão
Aquele que nunca pensou em vingança
Com a inocência de uma criança

Invadiram, mataram, sequestraram
Cada vez mais perto de nós
Quando quiserem nos encontrar
A procura de um abraço
Já será tarde demais

A fome se alastra
Jovens se tornam demônios
Crises existências se proliferam
E os preconceitos se camuflam
Ao olho da rua

Meu cotidiano agora é a sentença
Estar a esmo é estar conivente
Um convite não é mais bem-vindo
Análises em laboratório me dirão
O que vem de sua índole

Enquanto isso, senhores engravatados
Dormem tranquilamente
Sob um travesseiro de pregos