Dentre tantos papos absurdos, filosofias de botecos e casualidades, um dos assuntos preferidos abordados por mim e meus amigos é música. Sem aviso prévio um dia coloquei uma pergunta bem simplória na roda: “Em uma frase: O que é música pra você?” Fiz isso mais pra tentar achar uma definição que combinasse com o que essa arte representava na minha vida, já que eu mesmo nunca soube explicar direito tamanha a influência que a música teve em toda a minha existência.Dentre tantas respostas bobocas, vagas, engraçadas, estapafúrdias e demagogas, uma me chamou a atenção: “A música é o que me faz 13 anos de idade pro resto da minha vida.” Não era complexa, não era nem de longe a melhor, era até bem banal, mas de longe mais sincera de todas. Resvala na verdade crua de que uma das essências da humanidade é o saudosismo. E eu, como eterno nostálgico que sou, me deixei levar por essa frase.
Com isso em mente, fiz uma rápida viagem mental até meus 13 anos de idade.
Meus discos favoritos da época:
Mamonas Assassinas (apesar do trauma da tragédia ter impedido a todos os garotos de 13 anos da época de escutarem mais),
Titãs – Domingo (influência da minha irmã),
Legião Urbana – Dois (Renato Russo dissecando as minhas paixonites agudas sem qualquer cerimônia),
Nirvana – Nevermind (um tanto atrasado pra época, mas ainda importante),
E mais um que merece um parágrafo à parte...
Quando se tem 13 anos, a vida é cheia de paradoxos. Você quer fingir que teve todas as experiências da vida sem na verdade ter tido nenhuma. Quer se destacar por algum motivo, mas ao mesmo tempo fica dependente de estar inserido em um grupo legal de amigos, em que sejam respeitados, admirados, e claro, reparados pelas garotas. Quer liberdade dos seus pais, mas ainda deseja secretamente fazê-los se sentir orgulhosos. Você pensa que crescer é ter liberdade, e aos poucos, com cada uma das descobertas, percebe que quanto mais liberdade a vida te dá mais preso você fica às escolhas que serão somente suas. Quer se mostrar de garanhão com vasta experiência sexual, mas fica com o olhar pra baixo gaguejando qualquer coisa se aquela menina especial está num raio de 3 metros próximo a você.
Tudo gira em um círculo vicioso de provar pra todo mundo que é a sua pessoa mesmo que dita as regras do seu jogo, e não nenhum adulto cretino. Sendo assim, falar de sexo, drogas e transgressão era sempre pertinente, pois dava um falso controle sobre tudo o que desconhecíamos.
Nesse contexto que entra o quinto e talvez mais significativo disco dos meus 13 anos: O segundão dos Raimundos, Lavô ta Novo. Todo moleque de 13 anos em 1996 que se preze ouvia esse disco de cabo a rabo todos os dias. E não era porque concordava com as idéias (tinha idéias ali? Ah claro... machismo e apologia às drogas... pffff... como se alguém levasse aquelas letras a sério), a gente nem pensava direito nisso. Era bom quebrar as regras, sentir que tudo não passava de diversão desenfreada, todos os dias. Os Raimundos nos levavam na nossa prisão escola-casa-lição para um mundo em que éramos reis do nosso reino, e não simples aprendizes de vassalos. Na verdade, prevalecia a auto-afirmação que nos forçávamos a ter pra não nos sentirmos diminuídos. Afinal não somos tão espertos quando temos 13 anos pra viver por nossa conta, mas também não somos tão burros pra ignorar o que nos espera.
Mais de dez anos se passaram e hoje é difícil ouvir aqueles discos. Especialmente esse tal de “Lavo tá Novo”. Não porque ele não faz mais sentido pra mim, mas porque me obriga a um diálogo com aquele pentelho de 13 anos que jogava videogame 4 horas por dia, que ainda era alto o suficiente pra ser armador da equipe de basquete, que gostava de uma loirinha de cabelo curto da mesma sala mas nunca conseguiu dizer isso pra ela e ao invés disso acabou ficando com uma menina da outra sala que não significava muita coisa pra ele, e que ouvia Raimundos várias e várias vezes ao dia pra fingir acreditar que crescer seria fácil.
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