
“Na polícia você só tem três escolhas: ou você se corrompe, ou se omite, ou vai pra guerra”. Com essa premissa, Capitão Nascimento justifica sua entrada no BOPE, e por tabela seus métodos de violência, tortura e terror. Tudo movido pela idéia de que o crime só é combatido dessa maneira, e que usuários são grandes responsáveis por tudo isso acontecer, já que financiam os traficantes e dão sentido no fluxo todo. É isso que realmente acontece? As coisas são tão unilaterais a esse ponto? Ao menos no que se diz à avaliação tendenciosa de alguns, é. Soluções reais, nesse esquema, são soluções que não firam a rotatividade do sistema a qual está imbuído. Porque se ferir, ah meu amigo, o bicho pega.
Não é de surpreender que a capa estampada na Veja interprete o filme nesse aspecto. A quem interessa uma sociedade que questione a permanência ou reformulação de suas instituições? Com certeza não a uma publicação tão condizente com a ideologia vigente. O problema é que há pouco espaço para uma leitura um pouco mais aprofundada do filme, ou sedimentada em algo que não seja uma resposta fácil e isenta, e sim uma pergunta que nos mostre diferentes lados do problema. Por que isso? Bom, estamos diante de um dos maiores fenômenos midiáticos dos últimos anos. Não levar isso em consideração na hora de levantar o que o filme apresenta é ignorar o impacto que isso teve. E fica bem claro o que estou dizendo quando se nota a reação do público que tem visto o filme no cinema, entoando frases decoradas do Capitão Nascimento, rindo de seus trejeitos, das suas broncas e tudo o mais. Uma caricatura.
Será que isso aconteceria se assistissem ao filme sem nenhuma informação prévia? A assimilação de qualquer obra sempre sofre influência da pré-disposição que você tem para levá-la a sério ou não. E isso é um empecilho dentro da proposta e da intenção de qualquer autor, pois isola o senso crítico pra transformar tudo em mero entretenimento vago. Sucesso não significa necessariamente comprometimento com as idéias, e José Padilha, diretor do filme, sabe disso. Sabe que a popularização de seu filme promova debates, mas a reflexão imediata de espectador está comprometida, e ela sim é a mais forte, espontânea e relevante. Devíamos ir muito além de debatermos sobre Tropa de Elite, devíamos debater se vimos a obra como ela deveria ser vista, ou mesmo se existe uma forma correta de vê-la.
Tudo fica mais complexo ainda se pensarmos na estética do filme, muito próxima à documental. Opção feita para dar mais veracidade, aproximar de forma contudente realidade e ficção. Não há facilidades, a imagem é a janela pela qual nos damos conta de que tudo acontece, as mortes, chacinas, torturas, descaso da classe média, paliativos de pessoas “engajadas”, mas a realidade dói. Dói ainda mais porque parece um caminho sem volta, uma coisa inevitável. Quando um filme desses surge, a última coisa que devíamos fazer é cair na conta do panfletarismo. Taxá-lo de “fascismo”, “direitismo”, “apologia à violência”, etc, é limitar as suas possibilidades. Sob lentes vermelhas, é claro que enxergamos tudo vermelho.
Proselitismo, glamourização da violência, tudo isso existe, insiste, são assimilados e contemplados, assim como a concordância em rotular Tropa de Elite como “correto ao mostrar os verdadeiros responsáveis pela violência e tráfico”. Mas existem outros tantos aspectos consideráveis que ás vezes parecem estar além da nossa consciência por não serem definitivos. Pude observar, á par desses apontamentos obtusos, um pedido de reflexão sobre a discriminalização das drogas no filme, coisa que foi pouquíssimo comentada. Também uma verdadeira alegação da falência das instituições policiais, mas não, a culpa é do playboy e PM tem que cair matando mesmo. Cultura do ódio, “é eu ou ele”. Enquanto isso morre gente na classe E, D, C, B e A. E o rebanho ri e se isenta com aquela velha brincadeira infame: tem culpa eu?







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