terça-feira, 16 de outubro de 2007

A Tropa é da Elite.



“Na polícia você só tem três escolhas: ou você se corrompe, ou se omite, ou vai pra guerra”. Com essa premissa, Capitão Nascimento justifica sua entrada no BOPE, e por tabela seus métodos de violência, tortura e terror. Tudo movido pela idéia de que o crime só é combatido dessa maneira, e que usuários são grandes responsáveis por tudo isso acontecer, já que financiam os traficantes e dão sentido no fluxo todo. É isso que realmente acontece? As coisas são tão unilaterais a esse ponto? Ao menos no que se diz à avaliação tendenciosa de alguns, é. Soluções reais, nesse esquema, são soluções que não firam a rotatividade do sistema a qual está imbuído. Porque se ferir, ah meu amigo, o bicho pega.

Não é de surpreender que a capa estampada na Veja interprete o filme nesse aspecto. A quem interessa uma sociedade que questione a permanência ou reformulação de suas instituições? Com certeza não a uma publicação tão condizente com a ideologia vigente. O problema é que há pouco espaço para uma leitura um pouco mais aprofundada do filme, ou sedimentada em algo que não seja uma resposta fácil e isenta, e sim uma pergunta que nos mostre diferentes lados do problema. Por que isso? Bom, estamos diante de um dos maiores fenômenos midiáticos dos últimos anos. Não levar isso em consideração na hora de levantar o que o filme apresenta é ignorar o impacto que isso teve. E fica bem claro o que estou dizendo quando se nota a reação do público que tem visto o filme no cinema, entoando frases decoradas do Capitão Nascimento, rindo de seus trejeitos, das suas broncas e tudo o mais. Uma caricatura.

Será que isso aconteceria se assistissem ao filme sem nenhuma informação prévia? A assimilação de qualquer obra sempre sofre influência da pré-disposição que você tem para levá-la a sério ou não. E isso é um empecilho dentro da proposta e da intenção de qualquer autor, pois isola o senso crítico pra transformar tudo em mero entretenimento vago. Sucesso não significa necessariamente comprometimento com as idéias, e José Padilha, diretor do filme, sabe disso. Sabe que a popularização de seu filme promova debates, mas a reflexão imediata de espectador está comprometida, e ela sim é a mais forte, espontânea e relevante. Devíamos ir muito além de debatermos sobre Tropa de Elite, devíamos debater se vimos a obra como ela deveria ser vista, ou mesmo se existe uma forma correta de vê-la.

Tudo fica mais complexo ainda se pensarmos na estética do filme, muito próxima à documental. Opção feita para dar mais veracidade, aproximar de forma contudente realidade e ficção. Não há facilidades, a imagem é a janela pela qual nos damos conta de que tudo acontece, as mortes, chacinas, torturas, descaso da classe média, paliativos de pessoas “engajadas”, mas a realidade dói. Dói ainda mais porque parece um caminho sem volta, uma coisa inevitável. Quando um filme desses surge, a última coisa que devíamos fazer é cair na conta do panfletarismo. Taxá-lo de “fascismo”, “direitismo”, “apologia à violência”, etc, é limitar as suas possibilidades. Sob lentes vermelhas, é claro que enxergamos tudo vermelho.

Proselitismo, glamourização da violência, tudo isso existe, insiste, são assimilados e contemplados, assim como a concordância em rotular Tropa de Elite como “correto ao mostrar os verdadeiros responsáveis pela violência e tráfico”. Mas existem outros tantos aspectos consideráveis que ás vezes parecem estar além da nossa consciência por não serem definitivos. Pude observar, á par desses apontamentos obtusos, um pedido de reflexão sobre a discriminalização das drogas no filme, coisa que foi pouquíssimo comentada. Também uma verdadeira alegação da falência das instituições policiais, mas não, a culpa é do playboy e PM tem que cair matando mesmo. Cultura do ódio, “é eu ou ele”. Enquanto isso morre gente na classe E, D, C, B e A. E o rebanho ri e se isenta com aquela velha brincadeira infame: tem culpa eu?




segunda-feira, 24 de setembro de 2007

CONTOS TONTOS


Estimação

Ela não sabia pra qual animalzinho queria dar seu carinho. Tinha o mesmo apego aos bichos que os pais, defensores incansáveis dos direitos dos animais, mas ainda não elegera aquele que a contagiaria nas manhãs, aquele com a qual ela dedicaria horas de seu tempo livre para brincadeiras desnorteantes e felicidade compartilhada gota por gota de suor. Já tentou cachorro, gato, papagaio, hamster, marreco, sapo e até uma lagartixa, e nada. Era bom, era legal, mas não era algo mais. Não era, por assim dizer, afeto de quem se espelha.

Os pais diziam “Não se preocupe, é melhor amar os animais em geral que amar a um só e ignorar os outros, e você tem tanto amor dentro desse seu coraçãozinho que pode distribuir pra todos os bichos do mundo”. Aos cinco anos, isso é reconfortante por cinco minutos. Pelas ocupações da causa ambiental dos pais, a menina muitas vezes ficava sozinha em casa, ela e uma boneca, ela e um pente, ela e a sua sombra.

Um amigo era necessário, um que fosse como nenhum outro que ela nunca tivera. Até que um dia ela estava sentada num canto da sala, pintando qualquer coisa com seu lápis de qualquer cor, e uma barata pousou em seu desenho. A menina olhou. A barata parou. A menina a cutucou levemente com o lápis e a barata deu uma coçada em suas antenas e alguns passos pra trás. Então, a menina começou a fazer um traço em frente à barata, que seguia obediente cada reta, cada curva, cada mudança de direção.

Em cinco anos, nunca riu tanto. Fez então um traço descontínuo pra ver o que acontecia. E o inseto resolveu ir embora, na procura incessante de um ralo para se esconder. A menina observou muito atentamente o gesto desesperado do inseto e foi atrás, criando com a mão uma barreira para a passagem da barata, que parou, subiu em sua mão e ali ficou. A menina trouxe o bichinho para perto do seu rosto, observado cada movimento de suas patinhas e antenas. Esboçou um “oi”, e acreditou ter sido respondida, pois a barata moveu suas antenas de uma forma diferente. Perguntou se ela queria ser sua amiga, e ela começou a andar pelo seu braço, chegando próximo ao cotovelo, já de ponta-cabeça conforme se aproximava dos ombros, e depois voltou.

Um contentamento tomou conta da garotinha solitária. Havia finalmente encontrado um animalzinho que fazia jus aos seus cuidados e devoção. Tinha certeza que aquele bichinho estranho seria a melhor companhia para as manhãs silenciosas, tardes longas e noites misteriosas. Tudo a partir dali ganharia novas cores, sons, sentidos. Teria e daria atenção. Teria amor sincero. Teria vida.

Ela deixou a baratinha num canto da sala junto com o papel de seus rabiscos e foi correndo para seu quarto encontrar algo com a qual poderia fazer uma casinha. Revirou caixas, fundos de armários e espalhou revistinhas por todo o quarto. Encontrou uma velha caixinha onde guardava os sapatinhos de suas bonecas preferidas. Jogou-as todas numa gaveta qualquer e correu toda animada para a sala reencontrar aquela que dali por diante seria sua amiga mais confidente e verdadeira.

No caminho, ouviu um grito apavorante, Reconheceu a voz de sua mãe, mas nunca tinha ouvido um grito assim antes, tanto que ficou amedrontada e diminuiu os passos de sua corrida. A seguir, ouviu alguns barulhos como se fossem palmadas. Nunca tinha levado uma palmada, mas sabia o som, pois quando fazia alguma desordem seu pai dava uma palmada com o chinelo na quina do sofá em tom de ameaça, e ela entendia o que isso significava e não repetia o erro. De repente, os sons cessaram, e ela apressou-se novamente. Entrou na sala, mas não viu a nova amiguinha lá. Nisso seu pai passou por ela com uma pá de lixo na mão, e a menina seguiu. E foi então que, no fim do percurso, ela viu a barata parada no chão, imóvel, de ponta-cabeça com as antenas quebradas. E seu pai a recolhendo com a pá de lixo e saindo de casa para jogar na lixeira da calçada.

E então, ela chorou. Um choro sentido, como nunca antes havia chorado. Não entendia porque seus pais haviam matado o animalzinho que havia escolhido para amar. Não entendia como um amor a uma determinada “coisa” podia ter exceções. Não entendia que o que havia despertado nela de repente não podia mais ser demonstrado a quem a transformou dessa maneira.

Ela não tinha ainda pura consciência disso, mas naquele dia em que se dispôs a compartilhar tudo que tinha de melhor dentro dela com a baratinha que pousou em seu desenho, a garotinha teve suas primeiras grande lições sobre a vida: Que a humanidade é cheia de entrelinhas, exceções, contudos e entretantos. Que o amor é transformador, pois nos faz entrar em contato com partes de nós que, até então, pareciam adormecidas, mas que esse sentimento maravilhoso muitas vezes é incompreendido, ou subestimado, e é infinito enquanto dura. E que definições de igualdade existem para que uns sejam mais iguais que os outros.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

LETRAS ILETRADAS


Íris

O mundo parece tão frio
E deserto

Nem as melhores metas estão livres de seus pecados
E de suas precauções

E uma pessoa nova surge a cada minuto
Com a receita da perfeição
Com a essência idolatrada

Cada passo dissimula uma incerteza
Que ninguém consegue assumir
Todos se calam
E se calando, não percebem
Que gritam por dentro com a mesma voz
Uma única e bela palavra

Mas não, o sacrifício é sábio
Os corações estão camuflados
E não conseguem mais olhar para os lados

Os desejos silenciam
Não descobriram nenhuma dignidade livre
Os sentidos se isolam
E cada um se torna sua própria prisão

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Perfeição é coisa de boneca de porcelana.


Sou preguiçoso, desatento, bagunceiro, chato, me perco em estacionamentos, jogo bola que nem um velho de 88 anos, tenho 3 obturações, sou infantil, imaturo, desengonçado, hipocondríaco, sempre sonolento, não como na mesa, sou bicho do mato, odeio telefones, amo filmes esquisitos, me visto como quem se joga no armário e seja o que Deus quiser, adepto da solidão e das guloseimas sem hora, viciado em “internerd”, ronco, em termos culinários não sei nem esquentar água direito, quando desmotivado minha atitude se equivale a de uma bauxita, muitas vezes sem iniciativa por... ahn... timidez, tenho o gosto musical de alguém 30 anos mais velho, meus amigos reclamam que eu sumo toda hora, minha mãe reclama que eu não arrumo o quarto, minha irmã reclama que eu não dou atenção quando ela liga, e minha experiência e conhecimentos no campo dos relacionamentos amorosos são quase tão evoluídos quanto os de um bebê de 7 meses, sou manipulador, já ralei o carro tantas vezes que minha mãe tá com vergonha de ir numa revendedora ver quanto ele vale (isso mesmo, o carro não é meu), reclamo de ter que lavar 1 mísero copo, sempre largo os charges na caixa de bombons, não sei xavecar, largo um restinho de coca-cola sem gás na garrafa e acabo jogando fora, penso demais pra fazer as coisas, penso de menos pra não fazer as coisas, como pizza na mão, só corto as unhas quando já estão semelhantes às do Zé do Caixão, alimento amores platônicos desde que me entendo por gente, sou muito descuidado com minhas coisas, repito a mesma calça jeans por 3 dias seguidos, quebrar controles remotos é quase uma religião pra mim, faço barulho de madrugada, tenho olhar de psicopata, em alguns momentos careço de humildade e em outros careço de mais confiança no meu taco, pego coisas emprestadas e esqueço de devolver, empresto coisas e esqueço de pedir de volta, não tenho paciência pra fazer social, raramente termino projetos, vivo gripado, tenho tendências à calvície, choro em filmes mamão-com-açúcar, quando quero consigo ser muito desagradável, tenho problemas crônicos para dormir, preciso ter certeza que meus sentimentos são correspondidos senão minha insegurança prevalece e fico sem ação, meu condicionamento físico permite que eu corra no máximo 30 metros sem ficar ofegante, sou baixo, tenho pança de chopp, ninguém entende minhas convicções políticas esquizofrênicas (nem os “ah, o sistema é ótimo” e muito menos os “ah, é tudo culpa do capitalismo”), não sei assobiar, nem andar de patins, nem surfar, nem dançar, minha risada é escandalosa, falo gírias estranhas, faço sarcasmo em cima de coisas sérias, não sou independente e nem tenho previsão de quando serei, tenho hérnia de disco, meu pé é muito grande, minha orelha é muito pequena, sou xereta, bicão, folgado, meu fígado é igual a pele de calcanhar, abro geladeiras sem pedir licença, não faço cerimônia pra me servir quando almoço na casa dos outros, trapaceio no truco, e sou tão desgraçado que ainda vou deixar algumas coisas de fora da lista de propósito.


Mas se alguém aí ainda quiser me conhecer melhor, eu passo a lista das virtudes.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Medos privados em lugares públicos


Todo mundo é uma ilha. Essa frase já foi usada por diversos poetas, escritores e compositores, com os mais diversos intuitos. Seja pela individualidade ou pela covardia, seja pela reclusão ou pela dissimulação, ela dá sempre a impressão de pairar sobre nossos dias, quase como se fosse uma neve onipresente caindo sem parar em torno de todos os lugares em que sociabilizamos. A dificuldade de se relacionar vai muito além da simples convenção que cada um faz sobre o que é ou o que deixa de ser amor. Muitas vezes nada disso importa quando estamos feridos, ou desiludidos, ou esquecemos coisas que eram essenciais na época em que se apaixonar era simples, que escrevíamos cartas de amor em que escancarávamos nossa falta de experiência amorosa sem nenhuma cerimônia, porque ainda fazia sentido descobrir os caminhos e desvios na alma da pessoa com a qual estávamos juntos.

Não existe nada pior, para a efetivação de um amor espontâneo, real e puro, do que o medo e a carência. O medo que nos abate quando nos sentimos inesperadamente atraídos por alguém nos torna idiotas, passivos. Como expressar? Como atravessar paredes de vidros, verdadeiras grades que nos separam, para exemplificar sentimentos que nem entendemos direito quais são? E o que é mais correto: agir com impulsividade ou com adequação? Entender uma atração passageira é, na maior parte das vezes, tão complexo quanto entender um amor incondicional, porque ambos se confundem na nossa inabilidade de classificar a intensidade das nossas emoções.

A carência é a máscara do desassossego. Ela nos dá o aval para criticarmos tudo nos outros que achamos vil, fútil e superficial, e poucos segundos depois nos enfraquece a ponto de revirarmos esses mesmos anseios dentro de nós, permitindo ao nosso coração dar concessões que nunca admitiríamos nos outros. Nos tornamos a própria contradição, condenando alguém que busca fugacidade da solidão em fitas eróticas, para depois entregamos nossa alma de bandeja a um semi-desconhecido. Falta de atenção é falta de vida. Por um olhar que perdure mais de 3 segundos sobre nós, ás vezes abrimos mão de nossa própria essência. E mentimos nomes e realidades. E nos tornamos mesquinhos e inconseqüentes.

O que fazer? Alguns se sujeitam a uma solidão a dois. A falta de diálogo e a incompreensão mútua são sufocadas em nome da esperança de tempos melhores que não vem. Acabamos em um labirinto doméstico, em que nossas reflexões e emoções se confundem com a procura obsessiva de uma saída para tudo. A saída é inevitável, o término é inevitável, o sangramento é inevitável. Sobra o vazio por tudo o que houve. Sobra a despedida amarga. Sobra a intuição de que não aprendemos nada que nos dê uma resposta de como lidar com a relação seguinte. O que é vida para alguns senão o acúmulo disso ao longo dos anos? Os dias ferem, perdemos entes queridos, os amores de outrora não estão mais presentes, arcamos com obrigações com as quais não estávamos preparados. Duros e desesperançados, nos tornamos testemunhas oculares de amores quebradiços por todos os cantos, como homens bêbados choramingando suas imaturidades sobre o balcão de um bar.

O que resta? Abrir mão? Nunca se abre mão de uma vez por todas da condição mínima da humanidade: o amor. O que fazemos é criar paliativos que sejam uma distorção da percepção que tínhamos, tirando os espinhos mas mantendo o veneno. Essa abnegação pode vir através do álcool, da religião, da reclusão, do falso moralismo, ou da entrega fácil daquilo que de mais valioso tínhamos. E nessas horas tudo é contraste. As cores vivas de um ambiente animado contrapõem nossa melancolia. Um quadro de um olhar fixo na parede maximiza nosso sentimento de culpa. A vontade incessante de provocar desejo reflete o maldizer desse mesmo desejo. E, de repente, aquela neve que pairava em torno dos ambientes parece que toma conta de tudo o que está a nossa volta, invadindo nosso lar, nossas conversas e nossos pensamentos. E quando saímos desse estágio de alucinação, nos encontramos sozinhos, em salas, quartos e banheiros que dão a impressão de ter um milhão de quilômetros quadrados, sufocados por uma tristeza que, no fundo, sabemos que não precisava acontecer.



Um filme tão foda quanto “Medos Privados em Lugares Públicos” não merecia uma crítica, e sim uma crônica.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

LETRAS ILETRADAS


Ileso

E mais uma vez
O começo de tudo
Se tornou o ponto mais forte
Do romance fútil
Circunstância da sorte?
Esperança inútil?

Volta a procura obscura
De tão gasta, minha cura
Tornou-se um manifesto
Não sei se sou ingênuo
Mas sei do que é resto:
O início verdadeiro
Agora é vício rotineiro

Calaram mais uma vez
Minha crença, desavença
Não tem quem me convença
Do erro da entrega
Minhas palavras são severas
Resultado da minha fuga
Resultado inseguro
Contrário ao que eu juro

Te tive tão pouco
Mas meu coração oco
Se envolveu assim
E não foi trapaça
Nem quis ameaça
Ao longo do sim
Eu espantei caça
Conselho de graça
Não serve pra mim
Me livra da farsa
Se sou o comparsa do fim

Mas sigo em frente
Ileso, como sempre
Um tanto descrente
Confesso, tão ausente
Que nem me surpreendo
Fico indiferente
Triste, e em transe
Por uma nova chance

letra véia bagarai, de uns 4 anos atrás, mas que volta e meia recupera o sentido

terça-feira, 21 de agosto de 2007

PAPOS & SOPAPOS


- Ontem passou Rocky na TV, do caralho!
- Rocky? Pfff..
- Qual é problema?
- Filmezinho besta, não tem profundidade.
- Ah é sabichão?
- É sim. Sem conteúdo. Eu não aprecio coisas assim não.
- E o que você assiste então?
- Eu só assisto filmes culturais, artísticos, que me façam entender o mundo que eu vivo.
- Tipo?
- Ah você não os conheceria...
- Cita um pelo menos.
- É que não me lembro dos nomes, são muito complicados...
- Sei, sei... Então pelo menos me conta a história.
- Falam sobre pessoas ausentes umas das outras nesse mundo caótico e globalizado, sobre como o capitalismo age na vida das pessoas, tornando-as fúteis e alienadas, sobre como somos todos frutos de uma mesma manipulação.
- Parecem bem interessantes.
- Mas você não os entenderia.
- Obrigado pela sinceridade.
- De nada.
- Bom, vamos ou não vamos?
- Vamos de uma vez. Qual você prefere?
- Aquele com as tetas pra fora. Comi ele na semana passada e nem deixou eu gozar naquela cara barbada dele, filha da puta nojento.
- Beleza, vê se não tem alguém por perto que eu vou pegar o galão de gasolina e você empurra o travecão pro beco.
- Que merda, pensei que hoje fosse na muqueta...

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Criatividade, criativa idade.


Acho que a primeira vez foi quando eu tinha uns 6, 7 anos. Eu era viciado em desenhos animados de todos os tipos e temáticas e, no ócio que somente essa idade proporciona com tanta desenvoltura, resolvi fazer um teatrinho com bonecos desenhados a giz de cera. Após um suculento almoço dominical de família, apresentei o espetáculo para todos e foi então que a palavra, que tantas vezes me acompanharia ao longo de minha existência, brotou em uníssono:

- Quanta criatividade!!

Nunca mais fui o mesmo. Naquele momento em que até meus tios mais velhacos e ranzinzas, ainda com a boca entupida de toicinho e couve, grunhiram essa sentença, vi como a criatividade agia de forma tão certeira e intensa a cada pessoa. Para mim, ela se tornou sinônimo de alegria, aceitação e reconhecimento. E a partir dali quis sempre me esforçar em buscar uma alternativa original para tudo que me cercasse. Com 6 ou 7 anos um pensamento desses só pode resultar em travessuras, e comigo não poderia ser diferente. Chicletes se tornaram esculturas, cabelos foram colados, enciclopédias se tornaram carvão, e uma infinidade de peraltices se acumulou no meu currículo de pequenas felicidades. Lógico que, como toda pretensão infantil, essa também logo se viu cercada de sucessos e frustrações. Não raro criatividade se transformou em outros “ades”: hiperatividade, crueldade, espontaneidade, liberdade.

Na adolescência, toda essa gana em procurar soluções não-óbvias me sanou de uma terrível dissidência da minha personalidade: a timidez. Afinal já se escreveu, gesticulou e proclamou, por todos os meios possíveis, o quanto essa época é complicada e intensa. Primeira vez de quase tudo, para o bem e para o mal. E as enrascadas se enfileiraram no meu caminho: amigos que a solidão implorava fazer, garotas que o coração queria ter, lugares que não conseguiria esperar mais tempo para conhecer. Vai, caichola, funciona! Apelidos criados, desculpas inventadas, surpresas realizadas, palavras aos montes, aos ouvidos, ao vento. E não é que eu sobrevivi? Santa criatividade...

Chegou a fase adulta, quando tudo é muito prático, e essa palavrinha mágica dá a impressão de ficar meio grogue, jogada num canto, ou mesmo trancafiada. Mas peralá! Ela tem sido tão bendita em todas as fases da minha vida... Então por que não convertê-la em ganha-pão? E cá estou eu, estudando publicidade para fazer da minha imaginação um instrumento de trabalho. Claro que nada é tão simples assim, ainda preciso comer muito feijão com arroz mais toicinho e couve e outras guloseimas pra ganhar todo o “know-how” de marketing, briefing, e-commerce, brainstorm and etcetera. Mas já posso arriscar escrever textos que nem esse, devendo em criatividade, mas transbordando em vontade de ser mais criativo. E quem sabe alcance sucesso nessa empreitada e me satisfaça profissionalmente. Tomara, mas ao menos consigo o mais importante: continuar em sintonia com aquele garoto travesso e com aquele adolescente tímido que formam a melhor parte de mim.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

LETRAS ILETRADAS


Inevitável

Você diz que tua regra é a bendita
Eu desminto tua crença ultrapassada
Você decifra e corrige a minha escrita
E eu desabafo a sirene equivocada

Você repreende a minha estupidez
Eu te atinjo, breve ao meu desgosto
Você me lembra da minha insensatez
Eu te corto com um sorriso no rosto

Você assina cada tola permissão
Eu te ofereço uma vã promessa
Você me atira a tua consideração
Eu reintero que isso não me interessa

Você exerce a sua possessividade
Eu transfiguro a minha alienação
Você quer alimentar a maturidade
Eu quero mais, e não aceito o não

Você zela pela minha segurança
Eu fecho os olhos ao sentido perigoso
Você não vê que não existe a criança
Eu não acredito no caminho tortuoso

Você me coíbe, me tesoura, me inibe
Eu te ignoro, desconcentro, escandalizo
Você não abre mão da razão que exibe
Eu freio a bronca do que mais preciso

Você aperta o cerco e a vigia
Eu imponho método e convicção
Você me enclausura em sua tirania
Eu de chacota descarto a intromissão

Você se recorda do que um dia eu fui
Eu te esqueço, mais um dia que passou
Você se previne do mistério que evolui
Eu te agradeço o segredo que sobrou

Você invade o meu atalho restrito
Eu te expulso da minha intimidade
Você provoca a piedade com atrito
E eu ressuscito a minha imunidade

Você reza por meu futuro promissor
Eu me contento com um presente dado
Você se julga com o saber do professor
Eu dissimulo um adulto preparado

Você me abraça, diz que é pro meu bem
Eu compreendo, apesar dos meus reclames
Você faz mesmo tudo isso e vai além
E assim é inevitável que eu te ame


para Marlei Sebastiana Junqueira de Noronha, mais conhecida por mim como "mãe".

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Aos 20 e poucos anos.


Complicado ter 20 e poucos anos. Divisor de águas. Linha tênue que separa o desbunde adolescente da sisudez adulta. Ta na hora, rapaz, você não pensa em casar? Mas já vai casar? Como está sua carreira? Daqui a pouco pode ser tarde demais, vamos farrear por aí? Você não acha que está velho demais pra continuar fazendo esse tipo de coisa? O que nos sobra aos 20 e poucos anos são dúvidas disfarçadas de cobranças, ou seriam cobranças disfarçadas de dúvidas?

Até alguns segundos atrás a vida parecia tão automática. A pretensão do sucesso era apenas uma miragem no horizonte, e agora o horizonte está logo ali na outra calçada. A falta de experiência amorosa justificava o nosso mergulho em todo tipo de namorico mais-que-perfeito, e agora lidamos com um pretérito imperfeito que nos traz descobertas suficientes para certificar que o amor é muito mais real que a catarse de paixão que procurávamos cegamente, e que a carência é nossa principal inimiga. Nossos pais eram nossos eternos guardiões, a todo o tempo comungavam milagres como a comida que aparecia na mesa e as meias sujas que misteriosamente surgiam limpas e guardadas na gaveta. Agora se tornaram humanos, quase gente como a gente. Ditavam obrigações, e agora a sentença vira quase um conselho. Mas como alguém que até alguns dias atrás chamava intervalo de recreio vai se acostumar fácil com isso?

20 e poucos anos implica em tomar decisões diferentes. Não são mais decisões de uma noite como a roupa certa, o lugar ideal, a garota mais gata (e não que essas decisões tenham sumido, mas saíram do topo da fila para um lugar intermediário). Agora a flecha aponta para inúmeros alvos cujos nomes ainda nos dizem pouco: “arquitetura” “engenharia agrônoma” “especialização em mídia”. A falta de perspectiva que a adolescência nos brindava era uma dádiva e não tínhamos consciência disso. Mas porra, somos jovens e o que falta de preparo sobra em gás, coragem, ímpeto. Ok, desbravamos essa rota. A correria continua, a caravana passa, a sua estrada parece insossa e algumas situações te fazem pensar “eu errei?”. Errar aos 20 e poucos anos devia ser um direito, mas não adianta, os dias nos fazem acreditar que um erro tão absurdo é o equivalente a perder milhões em ações. Há tempo para conserto, mas é mais conveniente pensar que não há, que tudo é movido por urgência e conquistas precoces.

Viver sem pensar em sobreviver, eis o dilema. Alguns amigos se dão bem, outros não, e cheios de pontos de interrogação te acionam. É bom isso. Juntos, nos tornamos mais fortes e 20 e poucos anos é idade em que a força conjunta pode ser determinante para desviar as pedras no caminho. Parece até que a vida se inicia pra valer aqui e neste exato instante. Os 100 metros livres começaram e você foi o único que não escutou o disparo de largada. Tudo fica estático, e medos e incertezas dos 30, 40, 50 anos invadem a sua idade. “Será que vou ficar sozinho?” “Vou poder mudar quando eu quiser?” "Serei feliz com as minhas opções?". Aí um amigo das antigas que ainda não foi atingido por esse desespero imediato te dá o mesmo tapa na nuca de quando tinha 15 anos, e você nota que é possível envelhecer e ainda sim ser o mesmo.

Ideais que nos desmontam: crescer, aprender, lutar, persistir. E a responsabilidade de vencer. Vencer é ótimo quando se sabe exatamante o que seria uma vitória pra gente. Aos 20 e poucos é comum confundir o que o mundo espera da gente e o que esperamos de nós mesmos, ou juntar tudo no mesmo caldeirão e fingir que, seguindo a trilha mais óbvia, seremos o que sempre quisemos ser. Mas calma, não há o que temer, os sonhos não envelhecem. Só precisa torná-los mais práticos, mais palpáveis. Simples? Claro que não. Se tudo fosse tão simples assim, seria um porre. É preciso colhões pra tudo, inclusive pra se perder, e claro, depois deliciosamente se encontrar e fazer do seu traçado o motivo de abrir os olhos todas as manhãs.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

LETRAS ILETRADAS


O Casal

Prossegue o casal
Enfeitiçando problemas
Eternizando as mesmas
Trajetórias de vidas

E tornando banal
O que não vivemos
O que nós perdemos
Nas voltas e vindas

No ar, no meio-dia
O romance mais lindo
Dores, ousadia
De um mal bem-vindo

Do qual pertencemos
E surgem alergias
Nesses mesmos defeitos
Que comovem alegrias

Ás vezes avessas
Em ruas desertas
E estrelas diversas
Se apagam incertas

E cartas no cio
Questionam o pranto
O pensamento vazio
Do longo desencanto

De frio permanente
Na cama de solteiro
O tédio impertinente
Consome por inteiro

Os mínimos desejos
Televisão ligada
Por falta dos beijos
Real falta de nada

Mas segue o casal
Com sua intensidade
E longas histórias
De insanidade

E riem, e loucos
Amam ao reviver
Como tão poucos
O que não se pode ver

Assim vejo num laço
Em uma troca tão pura
O medo que eu realço
Inocência de uma cura

E assim por diante
Qualquer outro casal
Por mais que eu me espante
Acha tudo natural

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Ah o nada, esse grande tudo.


Mais uma crônica... Colocando dessa maneira, parece até que me amarraram ao pelourinho e me obrigaram a tecer essas malfadadas palavras sob pena de um açoite maior. Mas na realidade, o que estou fazendo agora é realizando uma conversa comigo mesmo que pode ser lida e relida por qualquer um que tenha tempo e saco para tanto.

Sobre o que escrever? Velho dilema... Mas gosto tanto de pegar uma folha em branco e garranchar absurdos que nem me importo mais se há um tema prévio ou não. O lado positivo disso é que me deixa livre pra começar do zero e terminar do nada. Hmmm... A pergunta continua com pregos martelados na minha mente poluída: o que escrever daqui pra frente? Pra fazer um mea-culpa, posso argumentar que até mesmo a falta de um assunto torna-se interessante quando se tem uma paixão pela atividade de transformar idéias, impressões e emoções em adjetivos, adjuntos adnominais e ditongos.

O nada também reina em nossas vidas, também rege nossos impulsos, também nos faz realizar coisas que até Deus duvida (isso pareceu resenha de Sessão da Tarde né? Só faltou jogar um "arrumar mil confusões" no meio). Então falar sobre o que não tem nada a ver com nada tem tudo a ver com tudo? Ótimo! Deixem-me ir à procura incansável do meu nada. No caso de escrever uma crônica, eu o encontro nas muitas idéias que eu nem ouso começar a dissertar pela previsão (muitas vezes equivocada) de que não serão interessantes ou não terão profundidade. Uma meia que está larga e fica saindo toda hora, a porta do banheiro que não fecha direito, as manias do vizinho que dá três roncos em intervalos cronometrados de dois minutos. Tudo é assunto, mas a precaução e o receio da incompreensão me fazem ir atrás de temáticas mais edificantes.

Sei lá... Poderia discorrer sobre o amor nos subterfúgios do silêncio avassalador, a solidão incontestável da juventude pré-cambiana, a perda da inocência após os noventa anos, o sexo como fuga da realidade... Não, porra!! Por hora estou cansado de tanta poesia, de tanta beleza e tristeza, desses emaranhados de clichês que são jogados na nossa fuça o tempo todo para complementar nossa existência como um mandamento dos Deuses. É tão legal falar merda, inutilidades, ou mesmo tagarelar futilidades em geral. E para a minha falta de intenção imediata, tenho uma quase-certeza que dedicar quatro parágrafos á falta de inspiração podem render um texto muito mais rico que falar sobre família, por exemplo.

Família?? Tema chato, batido... Enfim, já falei pra vocês que hoje levei dez minutos pra amarrar o cadarço do meu pé esquerdo?

segunda-feira, 9 de julho de 2007

CONTOS TONTOS


Ela continuava a caminhar no seu itinerário preferido: duas da tarde percorria a calçada de duas ruas atrás, depois uma viela que dava diretamente na sua casa. O olhar impenetrável, o andar errante da tenra idade... Tudo anunciava que ela ainda era pródiga naquilo que para ele era o fim de todas as suas conseqüências, temores e cálculos.
Ao sair de casa, ele era movido único e exclusivamente por um sentimento que na verdade eram vários, todos de uma só vez, e a intensidade sem nunca ser dividida: O medo de não encontrar a si, caso não a encontrasse. A ânsia de sair de si ao vê-la dona de si. Não era sonho porque doía, e não era dor porque havia o sorriso estúpido, idiota, cretino, que era inevitável ao perceber a existência de alguém tão sublime.
Os passos não eram sentidos, as pernas eram apenas a continuidade do seu tronco, assim como todo o resto era tão ínfimo perto dessa euforia que o tornava maior que humano por alguns segundos eternos.
Eram os seus longos e esvoaçantes cabelos louros? Ou sua pele tão clara que dava vontade de apagar o sol eternamente para que ela nunca mudasse? Seria seus olhos castanhos amendoados que nunca sequer cruzaram com os seus? Ou seu sorriso que era o exemplo maior de felicidade para todos os povos e constelações?
Nada. Isso que era.
Não havia tempo nem sobriedade pra pensar em algo pra dizer... Não, isso seria muito frio, seria um gesto raso, reto, próprio de quem tem controle sobre o que ocorre quando avista quem tanto se deseja. Não era o bastante. Era necessário um tributo, uma quaresma, uma banda, um reveillon...
Para ele, palavras não bastavam. Tampouco uma explicação. E a cada dia ele morria pra poder sobreviver e renascia novamente na tarde seguinte.
Para ela, continuava uma calçada, uma viela, e um garoto que ela olhava de relance, com certo interesse afogado pela timidez que se desfazia no conforto de seu lar.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

De quando Raimundos me transformam em Marty McFly.

Dentre tantos papos absurdos, filosofias de botecos e casualidades, um dos assuntos preferidos abordados por mim e meus amigos é música. Sem aviso prévio um dia coloquei uma pergunta bem simplória na roda: “Em uma frase: O que é música pra você?” Fiz isso mais pra tentar achar uma definição que combinasse com o que essa arte representava na minha vida, já que eu mesmo nunca soube explicar direito tamanha a influência que a música teve em toda a minha existência.

Dentre tantas respostas bobocas, vagas, engraçadas, estapafúrdias e demagogas, uma me chamou a atenção: “A música é o que me faz 13 anos de idade pro resto da minha vida.” Não era complexa, não era nem de longe a melhor, era até bem banal, mas de longe mais sincera de todas. Resvala na verdade crua de que uma das essências da humanidade é o saudosismo. E eu, como eterno nostálgico que sou, me deixei levar por essa frase.

Com isso em mente, fiz uma rápida viagem mental até meus 13 anos de idade.

Meus discos favoritos da época:

Mamonas Assassinas (apesar do trauma da tragédia ter impedido a todos os garotos de 13 anos da época de escutarem mais),
Titãs – Domingo (influência da minha irmã),
Legião Urbana – Dois (Renato Russo dissecando as minhas paixonites agudas sem qualquer cerimônia),
Nirvana – Nevermind (um tanto atrasado pra época, mas ainda importante),
E mais um que merece um parágrafo à parte...

Quando se tem 13 anos, a vida é cheia de paradoxos. Você quer fingir que teve todas as experiências da vida sem na verdade ter tido nenhuma. Quer se destacar por algum motivo, mas ao mesmo tempo fica dependente de estar inserido em um grupo legal de amigos, em que sejam respeitados, admirados, e claro, reparados pelas garotas. Quer liberdade dos seus pais, mas ainda deseja secretamente fazê-los se sentir orgulhosos. Você pensa que crescer é ter liberdade, e aos poucos, com cada uma das descobertas, percebe que quanto mais liberdade a vida te dá mais preso você fica às escolhas que serão somente suas. Quer se mostrar de garanhão com vasta experiência sexual, mas fica com o olhar pra baixo gaguejando qualquer coisa se aquela menina especial está num raio de 3 metros próximo a você.

Tudo gira em um círculo vicioso de provar pra todo mundo que é a sua pessoa mesmo que dita as regras do seu jogo, e não nenhum adulto cretino. Sendo assim, falar de sexo, drogas e transgressão era sempre pertinente, pois dava um falso controle sobre tudo o que desconhecíamos.

Nesse contexto que entra o quinto e talvez mais significativo disco dos meus 13 anos: O segundão dos Raimundos, Lavô ta Novo. Todo moleque de 13 anos em 1996 que se preze ouvia esse disco de cabo a rabo todos os dias. E não era porque concordava com as idéias (tinha idéias ali? Ah claro... machismo e apologia às drogas... pffff... como se alguém levasse aquelas letras a sério), a gente nem pensava direito nisso. Era bom quebrar as regras, sentir que tudo não passava de diversão desenfreada, todos os dias. Os Raimundos nos levavam na nossa prisão escola-casa-lição para um mundo em que éramos reis do nosso reino, e não simples aprendizes de vassalos. Na verdade, prevalecia a auto-afirmação que nos forçávamos a ter pra não nos sentirmos diminuídos. Afinal não somos tão espertos quando temos 13 anos pra viver por nossa conta, mas também não somos tão burros pra ignorar o que nos espera.

Mais de dez anos se passaram e hoje é difícil ouvir aqueles discos. Especialmente esse tal de “Lavo tá Novo”. Não porque ele não faz mais sentido pra mim, mas porque me obriga a um diálogo com aquele pentelho de 13 anos que jogava videogame 4 horas por dia, que ainda era alto o suficiente pra ser armador da equipe de basquete, que gostava de uma loirinha de cabelo curto da mesma sala mas nunca conseguiu dizer isso pra ela e ao invés disso acabou ficando com uma menina da outra sala que não significava muita coisa pra ele, e que ouvia Raimundos várias e várias vezes ao dia pra fingir acreditar que crescer seria fácil.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

PAPOS & SOPAPOS


- Aperta a minha mão direito, pô.
- Uh que braveza...
- Isso tá parecendo aperto de bicha. Homem que é homem não dá esse aperto frouxo não.
- Ah então você mede a frescura de um cara pelo aperto de mão?
- Claro.
- Quer dizer que passar base na unha assim que nem você, tudo bem? Mas apertar a mão de qualquer jeito não dá.
- Ih, qual é a tua?
- Nada, ué... Só to dizendo.
- Vem cá, tu não acha essa franja muito coisa de fruta não?
- O que tem de errado? É um corte que eu gosto, porra.
- Ui ui, tá certo.
- Vá à merda, você anda feito uma maricota de calcinha enfiada no rêgo e vem com essas pro meu lado.
- Aí rapaz, ta me estranhando?
- Você que tá.
- Quer resolver isso?
- Ta a fim de porrada, é?
- Não é pra tanto...
- Tem razão, eu tenho um encontro com a Marcinha hoje e não quero estragar minha unha.
- E nem eu quero desfazer minha franja. Passei horas arrumando, e a Roberta paga muito pau pra ela.


terça-feira, 3 de julho de 2007

Pare o mundo que eu quero descer.



Filme B


Um relógio denuncia a vida plena
Tardes que se condenam às grades
Estrelas intensas sangram
No firmamento, o filme as entregam

Todos estão atentos
Um a cada vez, cada um em seu respeito
Observam, pasmos, petrificados
Em suas ocas
Em seus planetas
A vida em deglutinação
E tudo se contrapõe
Quando denominamos hediondo
O crime referente ao nosso julgamento
Que, desumano, é humaníssimo

Calem-se
Ditaduras e comissão de frente
Nos levaram ao mar de sangue
Sejamos sisudos
Dominadores de uma grande quantidade
De nada
Donos da maior importância...
Mesmo com o desespero cravado no peito
Não há o que temer
Pois todos temem
E ninguém se aproxima

Mentecaptos, omissos
Não levamos a maior fatia
Benzemos a mão e a mente
Do assassino de nossa paz
O que temos agora?
Coração rancoroso, desesperançado
Olhos que quando enxergam
Estão mais cegos que nunca
Estão mais cegos
Que a cegueira

Fogueira para a correnteza
Virtudes e verdades caídas, descartadas
Lideramos somente a nossa justiça
Contra a principal vítima: nós mesmos
Quando a mágoa e a violência
São os verbetes da moda
E o troco é o meu reino inteiro
Por noites febris
Enquanto, ainda cúmplices
Lemos o jornal e babamos

É a regra: olhe para os dois lados
E todos te observarão com insegurança
Um dia, desse sofrimento nascerão crianças
Independentes e frias
E nada sobreviverá aos seus caprichos
Ou à loucura, ou a muito mais

A regra que ensinam todo dia
Não é uma regra de vida
É, assim, bêbada e banal
Uma regra bélica
Burra
E bem-vinda




Produto íntimo


O dia passa e deixa o veneno
A guerra é pronunciada nas escolas
Com todas as suas letras
O revide é indispensável
Lutamos cada vez mais sós
E cada vez mais resistentes

As notícias que chegam não salvam
Há uma nova epidemia
No meu sangue, na minha espécie
Resta uma culpa interminável

Sinal dos tempos
Todos conhecem uma vítima terminal
E um assassino serial
E que levante a mão
Aquele que nunca pensou em vingança
Com a inocência de uma criança

Invadiram, mataram, sequestraram
Cada vez mais perto de nós
Quando quiserem nos encontrar
A procura de um abraço
Já será tarde demais

A fome se alastra
Jovens se tornam demônios
Crises existências se proliferam
E os preconceitos se camuflam
Ao olho da rua

Meu cotidiano agora é a sentença
Estar a esmo é estar conivente
Um convite não é mais bem-vindo
Análises em laboratório me dirão
O que vem de sua índole

Enquanto isso, senhores engravatados
Dormem tranquilamente
Sob um travesseiro de pregos


sábado, 30 de junho de 2007

CONTOS TONTOS


Éramos quatro, e quase sempre um. Todas as manhãs eram azuis conforme nossos olhos confrontavam as novidades de mais um dia como qualquer outro, como nenhum.
Eu era o mais falante, o que lidava melhor com as situações inusitadas com as quais sempre deparávamos. Já fiz tanta madame comprar leite sem rótulo, e vilões de seriados nos perdoarem as vidraças quebradas, que perdi a conta.
Havia o problemático, que nenhuma mãe queria como companhia pro seu filho. Ah quanta falta de percepção, se soubessem o sangue que esse rapaz já deu pelo resto de nós... Hoje dou uma risada abafada relembrando esse descaso, mas na época era complicado amenizar isso. Bem... Na verdade deixávamos ele jogar como meia-direita e tudo voltava à estaca zero.
- Não vá se sujar!!!!
Mas que alienígena não se sujaria na prova mais disputada das Olimpíadas?? É claro que ele se sujou, se chafurdou na lama como um animal sem dono, e não suficiente ainda contribuiu para a imundice dos demais. Esse de quem falo agora era o mais ativo, fazia pontes das pernas dos transeuntes, e autódromos do pavimento da rua sem saída. Não era pra menos: era adorado por demais. Quanta criatividade...
- Que tal se as mesas fossem grandes dinossauros? Laçarei todos com meu cadarço de alcance infinito!
- Está nascendo um terceiro braço em mim. Quando ele crescer, vou poder nadar mais rápido que um tubarão.
- Quando eu morrer, daqui uns quinhentos anos, vou prum lugar só com carros de corrida pra eu pilotar até enjoar. Bom... E quando eu enjoar eu venho visitar vocês e assombrar seus filhos... haha
E quem disse que não acreditávamos? Tudo o que ele dizia, cumpria no ato. E eu sempre era o primeiro a apertar a sua mão a cada tarefa impossível que ele nos trazia encharcado de suor e lágrimas.
Mas tinha um de nós que nunca acreditava nele. Na verdade, não acreditava em nada. Nem nos sorrisos, nem nos presentes de Natal, nem nas pipas que ficavam para sempre lá, coladas no céu, mesmo ao anoitecer.
Aos olhos de sua desconfiança os atos heróicos dos demais eram revistos, redecorados, e se tornavam banais. Mas isso não era ruim. Alimentava nosso ímpeto de mais. Tínhamos que superar cada aventura de minutos atrás como se elas nunca houvessem existido. Ele fazia esse favor, nos tirava do teto de volta pro piso, cortava nossas asas e ainda pregava nossos pés.
E assim seguíamos com planos da conquista do bairro, ou ao menos das garotas do fim da rua, sempre as mais requisitadas. Eu, de costume, era o porta-voz dos recadinhos esdrúxulos que escrevíamos em conjunto em favor do outro que não conseguia raciocinar direito só de pensar em sua musa.
Muitas vezes deu certo, muitas vezes não. Mas não me lembro de ninguém ter saído gravemente machucado dessas brincadeiras de lábios que timidamente se tocaram ou de rejeições em aniversários alheios.
Não visito essa rua há mais ou menos 40 anos. Mudou de nome, o pavimento foi trocado, e agora a rua tem uma saída pra uma enorme avenida onde é impossível imaginar que nossos feitos poderão ser repetidos.
Hoje o sol desaparece no firmamento de sopetão. As estrelas dão a impressão de estarem mais ausentes uma das outras. E as manhãs que chegam me mostram um tom diferente, mas não sei explicar exatamente se mais escuro ou mais claro.
Todos seguimos em nossas vidas com desvios ao longo de todo o percurso, e as notícias que chegam em pombos-correios bêbados me dão vontade de gritar. Ou de sumir.
Mas até hoje, depois de crescidos, meus filhos não entendem porque eu sorrio toda vez que comentam de uma sensação estranha, porém reconfortante, que sentem antes de dormir.


Conto escrito há 1 ano mais ou menos para o saudoso blog "Novas Aventuras em Hi-Fi", em que escrevia histórias inspiradas em músicas. Essa foi baseada em "To Be Myself Completely", do Belle & Sebastian. Se tiver a chance de ler junto com música, recomendo.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Qual é o Segredo? Ter, ter e ter...


De ontem pra hoje deixei baixando esse documentário pra ver qual que é. De tanto me falarem (tanto pessoas pela qual eu divido alguns pensamentos em comum quanto as que pensam exatamente o oposto de mim), a minha curiosidade foi aguçada. Claro que teve quem veio com aquele papinho do cu do urso de “ah mas se todo mundo gosta deve ser ruim”, os mesmos que desprezam radicalmente best-sellers, filmes hollywoodianos e bandas que passaram a tocar nas rádios, mas isso é papo para um futuro post.

Ao terminar de ver, fiquei impressionado como o maniqueísmo barato ainda consegue ludibriar as pessoas. O filme nada mais é que uma auto-ajuda disfarçada com teses científicas discutíveis direcionadas ao que há de pior em qualquer um de nós: a vontade infinita de ter ao invés de ser.

Sim, porque o Segredo nada mais é que o fortalecimento da possessividade. É o pensar positivo para se ter a maior quantidade de coisas, e assim (e só assim) ser feliz e ter paz. A premissa é de que, se você pensar positivamente do que deseja, você vai conseguir. “Você é aquilo que você quer”... Eu odeio usar esses termos, mas não tem como deixar de pensar nisso como uma ode capitalista extremista. A todo momento, é instaurado um sentido de ter mais, ter tudo que se quer, ter o mundo. Ter, ter, ter. Qualquer um pode ter, independente do que seja como indivíduo e de seu caráter. E ainda por cima se coloca o questionamento sobre se o que queremos ter é o que realmente precisamos na privada pra depois dar descarga.

O grande problema de O Segredo, a meu ver, é usar toda essa retórica em prol de uma materialização do sentido de ser feliz. Todo e qualquer entendimento da sociedade e de cada indivíduo que vive nela foi banalizado, não é mais importante. Há coisa mais ridícula que afirmar que devemos realmente fazer tudo que nos dá prazer? Vá dizer isso para todas as pessoas morbidamente obesas, os viciados em algum tipo de droga lícita ou não, e às pessoas acomodadas que se fecham no redoma alienante de uma única sensação por medo de sofrer. Ah... mas medo é um pensamento negativo que está fora da filosofia de “O Segredo”... ? Pois é... Positivo é nos ensinar que devemos sentir gratidão única e exclusivamente como forma de conseguirmos alcançar os nossos objetivos. Bela lição.

Combinando hedonismo com espiritualidade barata, o documentário sugere que o bem-estar só depende das nossas próprias vontades e pensamentos. O individualismo exacerbado: temos que pensar no que queremos, vamos ter o que queremos, sem luta, sem suor nem lágrimas. Em contrapartida esquece que só aprendemos a lidar com nos mesmos, a nos conhecer e a entender nossas próprias emoções a partir dos nossos erros profundamente humanos. Ainda que o sucesso dependesse do que atraímos para nós mesmos, quantas batidas na cabeça temos que dar para realmente vislumbrar o que acrescenta algo a nossa vida? Como avaliar se o que queremos hoje é o que vai nos trazer felicidade e paz?

Não sou cético radical. Mas não tem como levar em consideração uma “Lei da Atração” do modo como ela é explorada por essa obra infame. Qualquer semelhança com a filosofia evangélica neo-pentecostal (não) é mera coincidência.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Aniversário: mais um dia em que não sei o que vai ter de almoço.


Nunca fui muito fã de aniversários. Na verdade sempre procurei tratar essa data com uma certa indiferença pra não ter que recordar que representam mais cartuchos que eu gastei na minha vida e menos que terei, dali pra frente, para gastar.

Parece uma visão pessimista da coisa, não? Pra que tudo isso, se é apenas mais uma data que todo ano se repete, assim como Natal, Carnaval e Páscoa? Bem, ao contrário dessas outras festividades o aniversário gira em torno de você, da sua vida inteira, das suas lembranças, de tudo o que você já viveu, o que você ainda não viveu e também do que as pessoas ao seu redor vivenciaram contigo. Tudo isso vem à minha cabeça como um cometa assim que ouço o primeiro parabéns de alguém.

À parte das chacotas que com certeza irei ouvir, fazer 24 anos é estranho. A partir de amanhã estarei mais próximo dos 30 que dos 18, e até bem pouco tempo atrás não fazia muita diferença pra mim se um adulto tinha 30 ou 50 anos. Ainda não estou estabilizado, não tenho emprego fixo, nem namorada, nem dinheiro guardado para algum plano mirabolante. Tudo o que eu tenho são os meus anseios, minhas incertezas e a minha pressa de ver tudo isso acontecer, mesmo sabendo que quando isso ocorrer sentirei falta da época que perdia o sono pensando nessas bobagens.

É lógico que nem tudo são espinhos. Como toda data comemorativa, eu dou valor a um gesto muito simples que o aniversário proporciona: num mundo tão corrido, as pessoas ainda tem um dia pra se lembrar de alguém pela qual sentem carinho e demonstrar isso pra ela com palavras ou presentes simbólicos. Não vou negar que isso me fortalece, me faz crer que os laços que se criam com algumas pessoas são eternos, maiores até mesmo do que o tempo ou a distância.

Contudo, não vejo com motivo de festejos, e sim de reflexão. Mais um ano que se foi, e o que aconteceu na minha vida desde o último dia que comi um bolo de brigadeiro e soprei velinhas com formatos esdrúxulos? Não é nem pela pressão de evoluir, mas a necessidade de sentir que sou alguém além de um besta que escreve palavras ao vento na internet, que tenho meu valor, que não to aqui de passagem para ver passivamente as coisas acontecerem e ficar de braços cruzados, que quero compreender e quero ser compreendido. É essa a minha luta diária, e aniversários são como uma trégua no meio do campo de batalha.

E ainda assim sei que a data é única mas o dia é mais um como qualquer outro, e que no fim das contas continuo sem saber o que vou comer amanhã no almoço, se vai passar algum filme interessante na TV pra eu assistir, ou se vou dar uma volta pra espairecer. E isso me traz um grande alívio, porque me faz lembrar que, se quisermos, as coisas podem ser bem simples.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Viver a vida ao máximo uma pinóia.

Hoje em dia existe um grande pensamento no inconsciente coletivo que martela na cabeça das pessoas frases de filosofia de botequim como “Viva a vida ao máximo” “Pense no agora” “Viva intensamente”.

Vou te dizer uma coisa: Que essas frases e pensamentos vão pro caralho que o parta.

Esse tipo de reflexão me incomoda demais porque gera, como conseqüência, uma mentalidade extremamente individualista, egocêntrica e, claro, inconseqüente e consumista. Ou seja: a pessoa que “vive a vida ao máximo” extrapola nos gastos, passa aperto e é infeliz. Ou então não pesa qualquer conseqüência que seus atos podem ter sobre a vida de outras pessoas e assim não tem mais freios morais. Daí impera a Lei de Gérson em sua vida, quer ter vantagem em tudo. (Será que daí que vem a cultura da corrupção que tanto reclamamos da boca pra fora?)

E quanto às pessoas que não podem viver a vida ao máximo? Que se fodam né? Afinal não é problema meu se há tantos desempregados no país, tantas crianças fora da escola, tantos adolescentes se prostituindo e tantos velhos largados na sarjeta. Dane-se, o mundo foi feito pra mim, para o meu bel-prazer, e eu tenho a obrigação de me divertir sem ter essas preocupações.

Essa necessidade de aproveitar cada segundo da vida é uma babaquice sem tamanho. Na verdade, só provoca mais depressão, ansiedade e vazio nas pessoas, ainda mais num tempo em que parece que não há tempo pra fazer mais nada. As pessoas falam que nasceram para ser felizes, no entanto chega-se a um ponto que a felicidade parece mais com um fardo a ser carregado. Sente-se culpa por não ser feliz, e entope-se de tudo quando é bugiganga ou pequenos prazeres pra disfarçar momentaneamente essa angústia.

Se existe um segredo para a felicidade, com certeza está na simplicidade e não nessa megalomania que se vê hoje. No dia em que as pessoas pararem de pensar em viver a vida ao máximo e pensarem mais em se relacionarem, se aceitarem, se compreenderem e proporcionar alegria aos iguais, a felicidade deixará de ser um êxtase a ser alcançado a qualquer custo e passará a ser uma coisa tão corriqueira que a sentiremos sem perceber, e apesar disso nada nos fará falta.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Não faça blogs que você não possa atualizar sempre.

Essa é mais uma tentativa minha de fazer um blog minimamente atualizado, organizado e tematizado. Já tive tantos blogs que até perdi a conta. Sobre todos os assuntos possíveis: música, cinema, poesia, contos, inutilidades, bizarrices... Só faltou ter um blog de culinária. Quem sabe no dia em que eu aprender a fazer algo mais que miojo e ovo frito eu embarque nessa empreitada também.

O mais engraçado é que eu sou um fã de blogs. Frequento assiduamente alguns (não chego a acompanhar todas as postagens porque isso vai contra a minha natureza procrastinadora, mas frequento), faço meus comentários, coloco na lista de favoritos. Mas quando chega a minha vez de fazer um, eu me perco na minha própria falta de inspiração disfarçada de preguiça.

Com o blog, qualquer ser inteligível pode se tornar um formador de opinião. Disseminar idéias ficou muito mais simples. Bom, eu sempre fui daqueles que vejo muito mais lados positivos nessa Era internética que vivemos no momento que negativos. Se o preço da falta de privacidade for o de ter ao meu alcance as informações e obras que eu sempre desejei ter, pago de muito bom grado. Tenho orkut, vários tipos de programa p2p, e claro, meus blogs largados por aí.

O único contrasenso que me preocupa é que, paradoxalmente, essa juventude que já nasceu conectada mundialmente pela rede se tornou muito mais acomodada com as imensas possibilidades que são oferecidas a eles. Como as coisas chegam com tanta facilidade em suas mãos, eles não dão o devido valor (claro que há casos destoantes, falo genericamente). Minha geração (tenho 24 anos) foi a última que copiava cd em fita cassete, que durante muito tempo não sabia o que era dvd, que tinha a internet como algo distante. Hoje observo que é uma geração que, se não tem a agilidade da que veio em seguida, em compensação tem um aproveitamento melhor do que pode ser oferecido pelo mundo virtual.

Azar de quem se limita. Eu, que sempre fui curioso e sedento por informações, me esbaldo todo dia. Agora só preciso ganhar um pouco de disciplina pra otimizar esse aproveitamento. Quem sabe esse blog vislumbre essa mudança... (não riam)